Apostas desportivas em Portugal : uma "mina de ouro"

As apostas desportivas voltam a ser assunto do dia, após a divulgação de uma investigação efetuada pela Europol que detetou 680 jogos viciados, 380 dos quais na Europa.

Já há algum tempo que as ligas europeias têm vindo a alertar a Comissão Europeia e Governos Regionais, para a ausência de legislação das apostas online por considerarem que põem em risco a credibilidade do futebol.

Emanuel Medeiros, diretor-executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol profissional, declarou recentemente numa entrevista ao PÚBLICO que considera o caso das apostas online “um caso de polícia”, prometendo uma atuação implacável das Ligas “sobre quem puser em causa a verdade desportiva”.

A casa de apostas bwin paga anualmente 23 milhões de euros ao Real Madrid pela publicidade visível nas camisolas dos jogadores. Trata-se de uma fonte de financiamento considerável a ter em conta, no entanto “deve-se ter muito cuidado, para não criar uma suspeita generalizada, que ponha em causa a credibilidade do futebol”, diz Emanuel Medeiros.

A falta de legislação no setor das apostas online permite que muitas casas de apostas funcionem sem licença, não só em Portugal mas em vários países europeus. Em Portugal, esse assunto está sobre a alçada do Ministério das Finanças.
O dossier das apostas online foi assumido pela tutela de Vítor Gaspar após a conclusão de um relatório encomendado pelo Governo que aponta três grandes direções para a lei: liberalização completa do mercado a novos operadores, abertura parcial da atividade ou atribuição como monopólio exclusiva à Santa Casa da misericórdia, fechando este negócio.

Mesmo com a ausência de legislação, as autoridades italianas detiveram recentemente o esloveno Admir Suljic, com a suspeita de ligação a uma rede que manipulou mais de 700 jogos. Apesar da polícia ter conseguido alguns progressos, Emanuel Medeiros reiterou que “há um cocktail de medidas que deve ser aplicado de forma global e concertada” com a necessidade de uma “legislação adequada, o que compete à Comissão Europeia e aos Estados-membros”.

Mas é o Leste europeu que está particularmente sobre suspeita. A Wikileaks revelou recentemente um telegrama da embaixada americana em Sófia, onde dá conta de uma suspeita de ligação do futebol búlgaro ao crime organizado que “usa clubes para se legitimar, lavar dinheiro e ganhar dinheiro rápido”. Com efeito, dados de um inquérito realizado a 3000 futebolistas em 15 países da europa do Leste revelou que 11,9% dos jogadores foram abordados para viciar resultados e 23,6 tinham conhecimento de jogos manipulados nos campeonatos dos respetivos países.